Momento Terapia: Amenizando o impacto psicológico do câncer

#CosmethicaAcessível: Mulher de chapéu olhando para direita com o título: Amenizando o impacto psicológico do câncer.

De acordo com o INCA (Instituto Nacional de Câncer) o câncer de mama é o tipo de câncer mais comum entre as mulheres no mundo e no Brasil, depois do de pele não melanoma, respondendo por cerca de 25% dos casos novos a cada ano. Existem vários tipos de câncer de mama, alguns evoluem de forma rápida, outros, não, mas a maioria dos casos tem bom prognóstico quando tratados adequadamente.

É possível afirmar que as alterações psicológicas que impactam a vida da mulher iniciam-se a partir do momento em que ela descobre o nódulo, muitas vezes através do autoexame e suspeita de que este possa ser um câncer. É um momento de extrema fragilidade emocional para a mulher que, precisa lidar com a realização de vários exames clínicos e lidar com sentimentos de desamparo e impotência, na maioria das vezes. A confirmação da doença, gera muitos conflitos internos para a ela e para os seus familiares que oscilam desde a negação da doença, até a raiva, a culpa, o medo, a aceitação e esperança.

Costumo dizer que não existe saúde física se não houver saúde emocional e vice-versa, pois somos um todo integrado. No caso do câncer de mama, um dos principais desafios e ajudar a mulher a ter saúde emocional para enfrentar todas as etapas do tratamento. E essa é uma tarefa da equipe médica, mas também da família e da rede social da paciente.

A palavra câncer carrega em si o estigma de ser sinônimo de morte e é de extrema relevância ajudar a mulher (e aos seus familiares) a descontruírem esse estigma, para que ela possa enfrentar as etapas do tratamento um pouco mais fortalecida, sob o ponto de vista emocional.

Acolher e compreender o seu desespero inicial, no momento em ela recebe o diagnóstico de câncer, já que a sua reação imediata pode ser: “estou com câncer, vou morrer!”, “o que eu fiz para merecer isso? ”, é função da equipe médica e paramédica, mas principalmente dos familiares e amigos que convivem com essa mulher no seu cotidiano. Obviamente todos são impactados negativamente pelo diagnóstico, mas não podemos esquecer que o impacto maior é, sem dúvidas, para ela que está vivenciando essa condição de adoecimento e precisa de respaldo para encarar o tratamento do câncer de maneira positiva.

É de suma importância que a mulher receba acompanhamento psicológico durante esse período, pois será no ambiente psicoterapêutico em que ela conseguirá trabalhar questões emocionais que, na maioria das vezes, não abordará com os seus amigos ou seus familiares.

Desconsiderar o cuidado emocional, implicará no desenvolvimento de quadros de Depressão e/ou Ansiedade, em algum estágio do tratamento.

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#CosmethicaAcessível: Foto de praia deserta, foco somente nos pés de uma mulher.

Sob o ponto de vista psicoterapêutico, o psicólogo auxiliará na:

– Elaboração e ressignificação de medos, culpas, inseguranças e fantasias;

– Vivências das etapas de luto (*não vivemos o luto apenas quando perdemos um ente querido, situações de adoecimento, perdas, términos, são consideradas também experiências de luto);

– Reconstrução das representações envolvidas no câncer, para que a mulher consiga compreender que existem tratamentos eficazes para o seu quadro;

– Fortalecimento emocional para lidar com as etapas do tratamento;

A família e os amigos podem colaborar de maneira muito positiva para a saúde emocional da mulher nesse período.

Como falei inicialmente, todos são impactados negativamente pelo diagnóstico de um câncer, mas é necessário reunir forças para auxiliar a mulher na travessia dessa fase. Substituir o tom melancólico, que muitas vezes se adota no trato de uma pessoa doente, para algo que traga acolhimento e noção de pertencimento à mulher.  

É importante respeitar a sua privacidade e limites, mas é igualmente importante se mostrar presente. Lembra-la de que ela é mais do que a sua condição de adoecimento, uma vez que esta passa a ser o tema central de sua vida.

Muitos estudos afirmam que as experiências emocionais vividas, influenciam em todo o processo da doença: desde a sua aceitação, até o tratamento, e até mesmo na intensidade da dor. Sendo assim, proporcionar situações em que a mulher possa se sentir: compreendida, acolhida, amada, desejada, feliz, bonita etc. impactará de modo bastante positivo nas etapas do seu tratamento.

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Diagnosticada em 2015 com câncer de mama, a apresentadora Sabrina Parlatore, fez uso de um desses sistemas de refrigeração do couro cabeludo e ela relatou que manteve 70% dos cabelos originais, o que a ajudou muito durante o tratamento.

#CosmethicaAcessível: Apresentadora Sabrina Parlatore, foi diagnosticada com câncer de mama em 2015.

Outro aspecto precisamos considerar e dar atenção é a autoimagem da mulher, que costuma ficar bastante comprometida e vulnerável, em decorrência dos efeitos colaterais do tratamento, seja pela perda de cabelo (felizmente hoje temos tecnologia que inibe esse efeito colateral do tratamento), pelo emagrecimento, pela mudança de textura da pele ou pela retirada da mama. E nesse sentido, proporcionar a ela experiências que permitam melhorar a sua autoestima, contribuirá também para a reconstrução de uma autoimagem mais saudável.

Desde que se respeite o protocolo médico, é fundamental oferecer as condições para que ela possa se sentir novamente integrada e feliz no contexto familiar e social. Logo, é possível ajudá-la a se lembrar e incentiva-la a fazer algo que ela fazia antes do diagnóstico e que lhe proporcionava prazer e felicidade. Pode parecer banal, mas: uma tarde entre amigos, um passeio por algum lugar agradável, um dia de beleza entre amigas, um elogio sincero, um hobbie e tantas outras simples atividades, podem contribuir, e muito, para o fortalecimento emocional.

Afeto e compreensão devem ser os “remédios” complementares ao tratamento clínico. A mulher precisa se sentir acolhida e compreendida, nesse momento, por todos aqueles a quem ela ama. Precisa internalizar que ela é mais do que um diagnóstico negativo e que, com os devidos cuidados sairá dessa fase com um enorme aprendizado, fortalecida e com uma linda história de superação para compartilhar com outras mulheres.

Marleide Rocha

Marleide Rocha

Marleide Rocha, psicóloga (CRP 95323), é especialista no tratamento da Obesidade, membro da Sociedade Brasileira de Coaching e da European Network for Positive Psychology e da APPAL - Associação de Psicologia Positiva da América Latina. Nossa colunista escreve aos sábados no Comethica. Acompanhe-a no www.marleiderochapsicologia.com.br.

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