Você é do tipo que acredita em tudo o que vê ou lê?

Você é do tipo que acredita em tudo o que vê ou lê? Certamente você dirá que não, afinal, são tantas formas de se buscar referências hoje em dia, que a minha pergunta parece descabida.

E quando se trata de estética, beleza, emagrecimento, técnicas para acabar com celulites, melhorar a pele ou o cabelo, por exemplo? Quais critério são adotados para selecionar o que você testa ou consome?

Estamos rodeadas por soluções “milagrosas” que nos garantem o sucesso imediato para praticamente tudo na vida de uma mulher nos dias atuais: da dieta revolucionária ou pílula que elimina muitos quilos em poucas semanas, aos cremes que rejuvenescem 10 anos em 02 dias. Parece exagerado, mas não é! Todos esses anúncios e propostas tentadoras desperta um lado “ingênuo” nosso, algo do tipo, “não custa nada tentar, vai que dá certo”. Só que não dá certo, e na maioria das vezes pode até ser prejudicial à saúde a ao bolso. O que potencializa a sensação de fracasso e a revolta por ter sido “enganada”.

Em outros artigos falamos sobre a importância do desejo na estrutura psíquica e emocional. Quando olhamos anúncios com esse tipo de apelo, é como se o botãozinho do “meu desejo pode se tornar realidade imediatamente” fosse acionado e, o senso crítico para avaliar se tal informação tem eficácia comprovada é ignorado, na maioria das vezes, pois o desejo é imperativo: “eu quero e quero já!”

Além disso, como somos todas tão bombardeadas por muitos estímulos dessa natureza, nos acostumamos com o fato de uma menina de 20 anos estampar a campanha de um creme antirrugas ou de uma personalidade da mídia que malha pesado 7 vezes por semana, dizer que emagrece porque bebe chá de hibisco, por exemplo. Fora os programas de retoque de imagens e os valores pagos pelo merchandising de produtos nos programas femininos ou para os influenciadores do Instagram.

Esse excesso de informação, sobrecarregada o imaginário, fazendo com tudo isso seja aceitável, normal, acessível.

Outro elemento perigosíssimo, que bagunça ainda mais o cenário, são as propostas alternativas, de pessoas sem o menor conhecimento, formação ou capacidade técnica, propagadas em seus canais do YouTube ou Blogs e que milhares de outras pessoas, super bem intencionadas, compartilham em suas redes sociais.

São as receitas caseiras para hidratar os cabelos, limpar a pele, clarear os dentes, eliminar a celulite etc.; programas de exercícios físicos desenvolvidos por gente que não tem formação na área; dietas mirabolantes sem nenhum referencial científico…

Esses conteúdos bobinhos e cheios de boa-fé vão se multiplicando diariamente nas nossas timeline. Que atire a primeira pedra quem nunca testou alguma receitinha dessas na vida!

Brincadeiras à parte, você precisa desenvolver a consciência de que estamos falando do bem mais preciso que existe nessa vida: VOCÊ! Mas, ainda que considere que o seu bem mais preciso é a sua família, filho, carreira ou cachorro, se algo de ruim lhe acontecer, você colocará em risco o seu maior bem de qualquer maneira.

Não é preciso desligar botãozinho do desejo, até mesmo porque isso significaria a morte, mas é possível ajustar o seu volume, para ele não seja tão fortemente seduzido pelos ruídos e apelos mercadológicos e sociais.

Precisamos ter a clareza de que, esse emaranhado de informações, verídicas ou irreais, além de colocar em risco a saúde, contribui para o fortalecimento de muitas crenças do nosso inconsciente. O que é uma crença? É algo que eu acredito inconscientemente que seja verdade. “Apenas as mulheres magras são desejadas e bem-sucedidas” é um exemplo de crença; conscientemente eu sei que todas as mulheres podem ser desejadas e bem-sucedidas independentemente do seu biótipo, mas recebo tantos estímulos que asseguram à magreza o status de poder e sucesso que, inconscientemente acredito nisso, crio essa crença. Que é fortalecida a cada nova informação do tipo.

Por isso a importância de investigar a veracidade dos fatos. Ainda que o desejo grite: “quero já” é preciso desenvolver uma estratégia eficiente para a sua realização. O primeiro passo é se desiludir, trazer elementos de realidade para confrontar a crença, criar imunidade ao excesso de estímulos. No exemplo acima, é possível confrontar e modificar a crença com questionamentos do tipo:

– Eu conheço todas as mulheres bem-sucedidas do mundo? Todas elas são magras, ou pelo menos, todas as que eu conheço são magras?

– Quantas mulheres reais, do seu convívio, perderam peso fazendo a tal dieta ou ingerindo o chá milagroso?

– Qual é a fundamentação científica desse método ou produto? Qual é a fonte da informação?

– Quem é a pessoa que comunica a informação: é um profissional da área e se o for, qual a reputação desse profissional junto ao seu Conselho Profissional e aos pacientes / clientes que ele acompanha, por exemplo?

Perceba, nenhuma dessas perguntas são impossíveis de serem respondidas, é esse confronto que ajudará a ressignificar muitos pensamentos que você pode estar nutrindo sobre algo da vida que deseja muito que seja realizado agora.

Fuja de golpes e não propague soluções milagrosa, no mundo real ou virtual, você é responsável pelo que compartilha. E se é para compartilhar, que prevaleça o bom senso. Faça valer o seu senso crítico para investigar a veracidade das informações que chegam até você e só depois, passe adiante, se for o caso. Critique, denuncie, alerte o que lhe parecer enganoso.

E não se esqueça do principal: não seja negligente, pratique o amor próprio, pois só conseguimos cuidar daquilo que amamos. Se o seu desejo é modificar alguma característica física, comece a amar esse corpo, a partir da relação de amor estabelecida consigo, será mais fácil criar estratégias, buscar ajuda especializada capaz de te auxiliar na realização do seu desejo. Soluções imediatistas podem criar um futuro doloroso e nocivo para a sua saúde física e mental. Não despreze o passo a passo para alcançar o seu objetivo, pois devagar também se chega longe.

Marleide Rocha

Marleide Rocha

Marleide Rocha, psicóloga (CRP 95323), é especialista no tratamento da Obesidade, membro da Sociedade Brasileira de Coaching e da European Network for Positive Psychology e da APPAL - Associação de Psicologia Positiva da América Latina. Nossa colunista escreve aos sábados no Comethica. Acompanhe-a no www.marleiderochapsicologia.com.br.

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