Anatomia dos Cosméticos: Conservantes

Nos preparados cosméticos, a água, os óleos, os peptídeos e os carboidratos são meios favoráveis para o crescimento de microrganismos.

É por isso que os produtos cosméticos necessitam de preservação para evitar o crescimento microbiano e deterioração do produto cosmético e também problemas de saúde, como infecções, decorrentes do uso.

E o ingrediente que trás segurança aos cosméticos é chamado de conservante.

O que são conservantes?

Um conservante é um ingrediente de origem natural ou sintética que, adicionado aos alimentos, medicamentos e cosméticos, evita a degradação do produto, bloqueando o crescimento microbiano ou ​​alterações químicas indesejáveis.

Por que os conservantes são aplicados nos cosméticos?

O uso de conservantes é essencial para os cosméticos para evitar danos ao produto causados ​​por microorganismos e para proteger o produto de contaminação durante o uso pelo consumidor.

Um ingrediente que protege o produto do crescimento de microorganismos é chamado antimicrobiano.

Um conservante também pode ser adicionado a um produto para o proteger contra danos e degradação causados ​​pela exposição ao oxigênio. Neste caso, os ingredientes são chamados de antioxidantes.

Sem conservantes os produtos cosméticos, assim como os alimentos, podem ficar contaminados, levando à deterioração do produto e possivelmente irritação ou infecções.

A contaminação microbiana de produtos, especialmente aqueles usados ​​ao redor dos olhos e na pele, podem causar problemas de saúde significativos e até graves.

Os conservantes ajudam a evitar tais problemas.

Os conservantes mais utilizados na indústria cosmética

Tanto a ANVISA, como a União Européia e o FDA possuem uma lista com aproximadamente 60 substâncias de ação conservante liberadas para uso nos produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes, entretanto por questões de longevidade, segurança e viabilidade econômica, a indústria cosmética utiliza principalmente os parabenos, liberadores de formol, sais orgânicos e metilcloroisotiazolinona e associações.

Parabenos

Os parabenos têm sido utilizados como conservantes há mais de 80 anos devido às suas excelentes propriedades antifúngicas e antimicrobianas.

Eles podem ser usados sozinhos ou em combinação, em função da necessidade.

Os mais utilizados em cosméticos dessa categoria são metilparabeno, propilparabeno, butilparabeno e etilparabeno, independentemente se o produto é enxaguável ou não.

Função:

Os parabenos são usados nos cosméticos devido ao seu amplo espectro de atividade, atuam em bactérias, bolores, leveduras e fungos, além de não interagirem com as outras substâncias da formula, possuem alta estabilidade química e são biodegradaveís.

A polêmica dos parabenos:

Devido a sua alta tolerância cutânea, baixa toxicidade e baixo custo, até o início do século eles estavam presentes em quase 80% dos produtos cosméticos, entretanto em 2004, pesquisadores apresentaram um estudo em que foram detectados traços de parabenos em tumores de mama, alarmando a comunidade científica e a população.

Mas esta pesquisa, além de polêmica trouxe certas incoerências. A principal delas reside no fato de que os pesquisadores não avaliaram a presença dos parabenos nas células saudáveis do corpo.

Os parabenos ocorrem naturalmente em um grande número de alimentos tais como a amora, a cevada, morango, groselha, baunilha, cenoura, pêssego, feijão branco, cebola. E em alimentos preparados a partir de plantas (suco de uva, outros sucos, vinho branco, vinagre de vinho, extratos de levedura e certos queijos. Eles também são encontrados em produtos produzidos por abelhas (própolis, geléia real, etc.).

Parabenos  são naturalmente encontrados no corpo humano e mais particularmente nas mulheres como precursora da coenzima Q10 e podem ser sintetizados por bactérias marinhas como meio de defesa contra outros microorganismos.

Na última década foram pesquisados todos parabenos e os resultados até o momento são inconclusivos, mas mesmo assim a Dinamarca já baniu seu uso em produtos infantis – e diz-se que foram levados pelo apelo da mídia, mais do que por resultados científicos.

Liberadores de Formol

Os liberadores de formol são uma família de ingredientes químicos, seguros e eficazes que tem sido amplamente difundida e estudada no controle de microrganismos como conservantes.

Os mais utilizados dessa categoria: DMDM Hydantoin (DMDM hidantoína), Imidazolidynil Urea(imidazolidinil uréia), Diazolidynil Urea (diazolidinil uréia), Sodium Hydroxymethylglycinate (Hidroximetilglicinato de sódio) e Quaternium-15 (Quarténio -15).

De olho no róutlo: DMDM Hydantoin, Imidazolidynil Urea e Diazolidynil Urea são os liberadores de formol mais utilizados nos Estados Unidos e Canadá, presentes em aproximadamente 15% dos produtos.

A polêmica dos liberadores de formol:

Apesar de todos os estudos comprovarem que nas quantidades determinadas pelos orgãos fiscalizadores os liberadores de formol são seguros, por ter o nome formol já assusta a população pelo pontencial risco de câncer.

É muito importante informar que o uso de formol e correlatos (ácido glioxílico e glutaraldeído) como alisante capilar NÃO é permitido pela Anvisa, pois esse desvio de uso pode causar sérios danos ao usuário e ao profissional que aplica o produto, e que o risco de câncer aparece apenas para em altas quantidades de formol na forma de vapor.

O vapor formado é facilmente inalado e vai direto para pulmões e consequentemente corrente sanguínea!

Mas a legislação sanitária permite o uso de formol e glutaraldeído em produtos cosméticos capilares apenas na função de conservantes (com limite máximo de 0,2% e 0,1%, respectivamente), durante a fabricação do produto, somente, pois nessas concentrações são considerados seguros.

Outros conservantes

As substâncias methylchloroisothiazolinone e methylisothiazolinone (MIT), também conhecidas pelo nome comercial Kathon, estão presentes principalmente em shampoos, condicionadores e sabonetes líquidos.

Em decorrência de vários relatos de usuários sobre dermatite e eczema na pele associados ao contato com esse conservante, a associação comercial Cosmetics Europe resolveu banir o uso de MIT por seus membros, só continuando o uso em produtos que serão removidos rapidamente da pele, como os enxaguáveis.

Fenoxietanol (Phenoxyethanol) é um composto químico orgânico, normalmente apresentado em solução aquosa incolor dotada de um leve odor floral, de modo que também é conhecido como éter de rosas.

O fenoxietanol pode ser encontrado na natureza, por exemplo no chá verde ou na chicória, mas sua versão comercial é primordialmente sintética, ele tem uma vantagem muito interessante para os formuladores: não faz parte da família dos parabenos, liberadores de formol e nem dos MIT.

Entretanto tem menor eficácia, sendo necessário a combinação de outro agente conservante na formulação, além de ter o uso proibido em produtos destinados para troca de fraldas em crianças menores de 3 anos.

Ácido Benzoíco (Benzoic Acid), ácido sórbico (Sorbic Acid) e ácido salicílico (salicylic acid) são liberados para cosméticos orgânicos, mas também possuem restrições de quantidade de acordo com os orgãos reguladores. O seu maior problema está na garantia da longevidade da preservação dos cosméticos.

Cosméticos livres de conservantes

Bom, se para cada conservante existe alguma restrição, o ideal seria o desenvolvimento de cosméticos livres de conservantes, inclusive já existem alguns que usam esse conceito em seus rótulos.

Mas, muita atenção! Os produtos que têm em sua rotulagem e composição descrito ‘livre de conservantes ou preservative free’ na verdade utilizam matérias-primas que possuem ação anti microbiana/bactericida/conservante, mas não estão listados como conservantes pelas agências reguladoras.

Produtos com os seguintes componentes: Caprylyl Glycol, Glyceryl Caprylate, Glyceryl Caprate, Phenethyl Alcool, Ethylexylglyceryne possuem como propriedades, emolientes, solubilizantes de fragrâncias e perfumes, mas também têm ação microbiológica.

Cosméticos livres de água

Se quando se fala em conservação de cosméticos, o foco principal está na preservação da água, então o melhor caminho seria utilizar cosméticos livre de água, certo?

Isso não é 100% possível, primeiramente porque em sua grande maioria os ativos  precisam ser solubilizados em água, e mesmo no caso de produtos de base oleosa ou pós quando entram em contato com a umidade atmosférica, correm o risco de contaminação.

Para finalizar o assunto…

Acredito que o acesso à informação para todos é de fundamental importância, tanto é que essa é a motivação principal para criarmos o Cosmethica, mas na esteira da grande fuga dos conservantes, as informações estão deixando os consumidores mais confusos do que verdadeiramente informados.

Um mundo sem conservantes é um mundo com mofo, bactérias, crescimento microbiano e alergias.

Por isso, acredito que o foco de nossa observação não deveria ficar restrito na questão de como os fabricante estão usando conservantes. E sim como os fabricantes estão preservando produtos, e se seus métodos são tão bons e seguros para nós e nossa família.

Referências

Collège de Dermocosmetologie d’Unilever: Parabens: what to tell our patients 
EWG Skin Deep: Methychloroisothiazolinone 
Cosmetica em Foco: Atualização sobre o Fenoxietanol
Revista Food Ingredientes: Dossiê Conservantes
Anvisa: Orientação sobre alisantes

Christina Santos

Desde criança sou apaixonada por cosméticos, a brincadeira se tornou algo sério, minha carreira profissional sempre foi dedicada para pesquisa e desenvolvimento de produtos cosméticos. Todo ano aparecem novidades e novas aplicações e sempre busco descobrir algo novo para passar a informação de maneira descomplicada e de fácil compreensão.

5 comentários em “Anatomia dos Cosméticos: Conservantes

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